Olá, aqui é o Professor Rodrigo Ramalho e quer fazer uma narração sobre agressividade no trânsito: parece e é um clichê, mas você já se viu dirigindo no tráfego pesado e ao sinalizar para trocar de faixa o outro condutor que estava a 50 metros de distância, bem longe, de repente aparece do seu lado buzinando? O que parece é que ele está se comunicando assim:

– Olha aí… Você está me fechando!

Como ele não pode dizer isso olhando nos olhos, deixa que a buzina amplifique o seu grito em uns 50 decibéis.

Provavelmente depois dessa injusta repreensão, você sente uma vontade incontrolável de questionar o motivo da histeria, e, da mesma forma, como não pode fazê-lo olhando nos olhos, responde com mais 50 decibéis de buzina pressionando com força o meio de volante, como quem diz: @# %&!

Sempre busquei paralelos entre as ciências para entender melhor o comportamento humano no trânsito e percebi que as teorias de Darwin podem contribuir para esclarecer e prevenir episódios irracionais como este. Mas como?

Em seu legado Darwin propôs a Teoria da Seleção Natural, que em suma, sugere que quando há escassez de recursos, os indivíduos melhor adaptados ao ambiente em que vivem têm mais chances de sobreviver e reproduzir-se. Já os indivíduos com características menos vantajosas têm menos chances de prosperar. Ou seja, na “luta pela sobrevivência” não são os mais fortes que se sobressaem (como muitos pensam). Triunfam aqueles que são mais adaptados ao ambiente.

O trânsito se tornou em um ambiente repleto de escassez, principalmente de espaço. Vejamos alguns exemplos: em 4 de fevereiro de 2019, a capital de São Paulo registrou 202 km de congestionamento. Na capital baiana, cidade em que resido, houve um crescimento de 95% da frota de veículos entre os anos de 1998 e 2008. Isso significava quase o dobro de veículos nas ruas, aumentando o tráfego e a competição entre os condutores.

Saiba qual foi o dia que SP registrou recorde de lentidão em 2019

>> Agressividade no trânsito, o Darwinismo na prática

Em março de 2009 me coloquei como espectador e registrei 150 interações no trânsito com as situações-estímulo de trocas de faixa, mudanças de direção e pistas. O laboratório mensurou a frequência de reações agressivas dos condutores nas situações-estímulo na hora do rush em pontos críticos do tráfego. Em 91,33% dos casos observados houve reações agressivas quando os condutores tentavam trocar de faixa ou realizar manobras de ultrapassagens.

Isso era previsível, visto que as observações foram efetuadas em horários e locais críticos. O que eu não esperava foi verificar que, quanto menor a velocidade, maior é a reação de agressividade dos condutores. Em altas velocidades, 56,66% dos condutores reagiram com agressividade, nas baixas velocidades 66,66% deles e nos congestionamentos, 77,77% dos condutores reagiram agressivamente. Confira o artigo original aqui!

Na “luta pela sobrevivência”, lembra? Os condutores competem por faixas, posições e vagas de estacionamento em um ambiente (vias públicas) com escassez de recursos. Tem muito veículo para pouco espaço e isso promove a competição dos indivíduos. Não foi isso que o Darwin disse?

Na prática, isto se confirmou, em baixas velocidades e nos congestionamentos (com veículos parados) a sensação de escassez foi mais aguçada. Nestas condições, quando havia uma troca de faixa, os condutores com a posição ameaçada (em sua maioria) apresentaram comportamentos de disputa e agressividade, aumentando a velocidade e utilizando a buzina para protesto a fim de dificultar ou impedir a manobra. 

>> Na contramão da competição a resposta pode estar em Darwin

O experimento que citei não tem expectativa de ser referência científica para acadêmicos, mas reforça a lógica da lei de Darwin quando prevê a disputa dos indivíduos na escassez e quando exalta a “adaptação” para que eles não perpetuem a saga dos primeiros parágrafos deste post.

Então como alcançar o equilíbrio nos adaptando ao stress do trânsito? Essa resposta precisa de muitas linhas, nestas eu destacarei um princípio importante de Educação Emocional no Trânsito:

>> Educação Emocional no Trânsito

Motivar as pessoas a serem mais fortes e não sucumbir as armadilhas emocionais as tornam mais “adaptadas”, e isso lhes dá poder. Elevar o status de alguém mostrando o quanto “poder” ela possui em não fazer aquilo que todo mundo faz, tem dado muito resultado nos meus laboratórios. O segredo dessa estratégia é mostrar como os condutores se tornam iguais quando competem no trânsito. Ridicularizar as situações que mais parecem um script: começa com uma disputa despretensiosa na troca de faixa e acaba terminando no sentimento da raiva no desenrolar da trama. Isso se repete em um ciclo vicioso que você pode “quebrar”. Experimente fazer assim:

— Quando for trocar de faixa, ao invés de surpreender o condutor realizando a manobra de surpresa, procure dar um toque na buzina e um sinal de “ok” com a intenção de “pedir” a preferência de passagem. Geralmente o outro condutor não se sente desafiado e permite a troca de faixa;

— Quando alguém troca a faixa e compete com seu espaço, exercite o desafio de não buzinar (controle emocional). Pode ter certeza que não adiantará, pois se a metade do veículo já atravessou à sua frente, não há mais o que fazer. Então deixa para lá, um carro a mais na sua fila, não alterará significativamente seu tempo de percurso.

Então é isso, faça diferente de tudo que é mais fácil e (quase) todo mundo faz: cair nas armadilhas da disputa e da buzina para aliviar a frustração. Isso é fácil, todo mundo faz. E você, será que a partir de agora consegue ser diferente? Inteligente? Isso não é fácil, mas você consegue. Basta se adaptar ao um novo mindset 🙂

Até o próximo post.

Leia também: O que é Educação Emocional no Trânsito?